Maternidade também terá que ser fechada por falta de profissionais
Jessica Riegg e
Priscila Borges
Os pediatras do Hospital São João de Deus – HSJD – prometem parar totalmente o atendimento a partir dessa sexta-feira. Os motivos são os baixos salários e a falta de mão-de-obra, o que obriga os profissionais a dobrarem os plantões. Há a possibilidade de o hospital perder o convênio com o Sistema Único de Saúde – SUS – por esse motivo, segundo o secretário adjunto de Saúde, Gilmar Santos.
De acordo com a chefe do setor, Shirley Milagre Menezes Duca, caso não haja negociação concreta, o setor vai parar porque o hospital não possui uma equipe completa de especialistas na área, devido ao salário ser considerado baixo pela classe. Em novembro do ano passado, dois médicos abandonaram o trabalho, dando início à soma de plantões que foram dobrados.
Atualmente eles recebem R$ 560 líquidos por plantão de 48 horas, mas desejam que o valor passe para R$ 750 durante o dia, R$ 900 durante a noite e R$ 1 mil nos finais de semana, totalizando R$ 63 mil para toda categoria a cada 31 dias. O valor total oferecido pelo hospital foi de R$ 35 mil, o que a pediatria considera aquém do mercado.
Pedido inviável
A decisão de parar os atendimentos foi tomada depois que as negociações atingiram mais de oito meses sem uma conclusão.
- Como não conseguimos nenhum acordo procuramos a Promotoria de Saúde no final de março, porque é um hospital que atende também o SUS e há interesse do município em manter o atendimento. Foi decidido que o problema era da Secretaria de Saúde e da unidade hospitalar, e que eles precisavam chegar a consenso. Ficou assim e nada mais foi falado sobre o assunto – contou a pediatra.
Depois disso, outros profissionais abandonaram o trabalho e no dia 16 de maio, a prefeitura, através da secretaria municipal de Saúde e o hospital receberam o anúncio de que o serviço seria interrompido a partir dessa sexta-feira.
Segundo o presidente da Fundação Geraldo Corrêa, mantenedora do HSJD, Frei Ronan Pereira Lima, a diretoria ainda está negociando com os pediatras e já foi informada da possibilidade de fechamento do atendimento pediátrico. Para ele, esse valor é muito acima do que é pago pelo mercado nas capitais e o hospital não tem condições de arcar com o pedido dos médicos.
Serviços afetados
De acordo com Frei Ronan, caso os pediatras suspendam os atendimentos, o CTI Infantil e a maternidade serão fechados. No final do ano passado, a diretoria interrompeu o atendimento ambulatorial por falta de profissionais.
- Se os pediatras pararem com o atendimento teremos de fechar esses setores e todos os outros que dependem da atuação desses especialistas e então o caos estará instalado. Por isso, estamos lutando para negociar com os médicos sem que eles parem o atendimento – declarou.
Shirley lembrou ainda do pós CTI e dos partos de alta complexidade que ficarão paralisados.
- Se houver uma tomada de decisão e repactuar isso, a pediatria não está com o intuito de abandonar o hospital porque amamos aquilo. Eu tenho 16 anos de casa, e me considero nova ali. Mas a questão ficou insustentável porque não conseguimos mais profissionais com esse salário – frisou a pediatra.
Descredenciamento
Conforme o secretário adjunto de Saúde, Gilmar Santos, existe a possibilidade de o hospital ser descredenciado junto ao SUS porque haverá uma quebra de contrato, caso não haja atendimentos pediátricos. Dessa maneira, o local não teria mais isenção fiscal e nem receberia o repasse público.
- O HSJD é credenciado e existe um contrato. Se o serviço for interrompido pode haver desligamento e a instituição pode perder sua filantropia – declarou Gilmar.
Frei Ronan questionou a fala do secretário adjunto por acreditar que isso não vai acontecer já que o HSJD é o único na cidade que faz atendimentos pelo SUS.
- Essa história de descredenciamento do SUS é uma bobagem sem tamanho. Se o SUS quiser descredenciar o hospital, pode descredenciar, mas quem vai fazer o atendimento da população? O Hospital Público Regional ainda não está pronto – ponderou.
Gilmar lembrou que esse problema é de inteira responsabilidade do hospital, pois está previsto no contrato a gestão dos recursos humanos. Em contrapartida, o governo federal, através do SUS, fornece materiais e a isenção fiscal, que chega a R$ 5 milhões.
- O volume repassado é muito grande; não há como o sistema público cuidar ainda das contratações. Espero que o bom senso defina o final dessa história – finalizou o adjunto.
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