quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A política externa russa e a importância do Brasil na nova Guerra Fria

Reproduzo abaixo texto de extrema qualidade de Raphael Machado Silva publicado no Blog Perspectiva Política

Após a queda da União Soviética, com a consequente fragmentação de seu Império, a Rússia caiu em uma espiral de caos, desordem, corrupção e decadência que durou ao menos 10 anos. Aparentemente, a Guerra Fria havia sido ganha pelos EUA. Só havia restado uma grande potência de pé e alguns diziam que seria assim “para sempre”. A “história havia chegado ao seu fim”.

Após a ascenção de Putin ao poder na Rússia, porém, esse quadro tem mudado radicalmente. De modo lento, porém progressivo e incontível, a Rússia volta a assumir sua posição de direito como uma grande potência e como rival dos Estados Unidos da América e da China na disputa pela hegemonia global.

Putin tem conseguido efetivamente perseguir e capturar a maioria dos grandes oligarcas russos que lideram as máfias, os quais são todos ex-comissários e ex-burocratas comunistas, que aproveitaram a derrocada do regime soviético para “abocanhar” a maior parte do país por uma “pechincha”. O líder russo realiza constantes programas e toma iniciativas visando aumentar a fertilidade e a natalidade dos russos étnicos. Ordenou a expulsão de milhões de imigrantes ilegais. Começou a treinar adolescentes em campos militares. Venceu uma guerra contra a Geórgia e aumenta sua influência sobre seus vizinhos e sobre toda a Europa, graças ao fato de ser o principal fornecedor de gás no continente europeu.

Como era de se esperar, porém, o fortalecimento interno da Rússia e suas iniciativas na direção de um fortalecimento externo a colocam cada vez mais em choque com os interesses americanos. Ainda que nem Rússia e nem os EUA sejam tão hegemônicos hoje como eram nas décadas da Guerra Fria, ainda assim ambos recomeçaram um lento jogo de xadrez em busca da solidificação de áreas de influência.

Por enquanto os principais palcos de enfrentamento têm sido Europa e Oriente Médio, porém, cada vez mais a América do Sul se revela uma região estrategicamente importante para qualquer projeto hegemônico global. As condições naturais globais elevam cada vez mais o valor estratégico da posse de recursos energéticos e estes a América do Sul e, principalmente, o Brasil possuem em abundância.

Até então, o principal parceiro estratégico e econômico da Rússia tem sido a Venezuela. Porém, como apontou o jornal russo Pravda recentemente, a utilidade de uma parceria com a Venezuela é bastante limitada por conta da instabilidade e dos riscos que o referido país apresenta a uma proximidade econômica internacional, além do fato de que, aos olhos dos russos, parece que o único interesse venezuelano está na compra de armamentos. É inevitável, portanto, que o Brasil se torne nos próximos anos a principal arena de disputas de influência entre Estados Unidos e Rússia, graças a sua posição como potência regional e como importante fonte de recursos energéticos na América do Sul.

Para que o Brasil aproveite essa situação ao máximo, ele deve cessar de tomar atitudes diplomáticas unilaterais e tentar ser o mais equilibrado possível, durante o máximo de tempo possível, tirando proveito dos interesses russos e americanos, evitando nos comprometer com qualquer dos lados dessa rivalidade.

Infelizmente, me parece que a diplomacia brasileira é demasiadamente inexperiente nessa arte, sempre entregando-se “de corpo e alma”, ou a um lado, ou a outro.

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