Ana Maria Moreira, conhecida como Chuchu, morre aos 99 anos
Jessica Riegg e Vinícius Luz
Com os mesmos 99 anos que Divinópolis completa no próximo dia 1º junho, morreu na noite de terça-feira uma das figuras folclóricas da cidade. Ana Maria Moreira, ou Chuchu, como era apelidada, não resistiu a uma pneumonia forte. Conhecida por acompanhar todos os júris no Fórum Dr. Manoel de Castro Santos, ela era reconhecida pela frase: “Está tudo Chuchu Beleza”. Durante o velório, ontem à tarde, no Lar dos Idosos, juízes, ex-prefeitos e vereadores deixaram o último adeus.
Querida pelos moradores da cidade, que sempre a viam rodeada de animais, Chuchu gostava de acompanhar o Tribunal do Júri, tinha cadeira cativa no Fórum e era a responsável pelo sorteio dos juízes.
O velório no Lar dos Idosos foi prestigiado por autoridades, como os vereadores Pastor Paulo César e Rodyson do Zé Milton; o ex-presidente do Sindicato Rural Geraldinho Martins e o ex-prefeito Aristides Salgado, além de boa parte dos funcionários do fórum, juízes e promotores. Ela foi sepultada às 14h, no cemitério Parque da Colina.
Chuchu completaria o centenário junto com Divinópolis, no ano que vem, e era querida porque amava todas as pessoas sem distinção, além dos animais, que a cercavam. Tinha dois filhos e seis netos, a quem visitava com frequência.
- Ela vai fazer falta na nossa vida - afirmou o filho Welington Moreira de Lima.
Ele contou que sua mãe tinha duas certidões de nascimento e ninguém, nem ela, sabia ao certo o motivo disso. Portanto, ela pode se chamar somente Maria Moreira Silva, como a outra identidade mostrava.
Chuchu recebeu homenagens no Dia da Mulher em 2008 e passou três dias se preparando. Sua amiga há 20 anos Iramar Fátima de Almeida, assessora parlamentar, ajudou-a a comprar roupas e sapatos adequados.
Durante a encomendação do corpo, o religioso frisou que ela era um espírito elevado porque se parecia com São Francisco pela humildade e amor às pequenas criaturas.
Moradia
Ana Maria morava no Alto do São Vicente, mas ia em casa apenas para dormir. Quando estava doente, Iramar desejou que ela fosse para o Lar dos Idosos, mas ela fez questão de manter sua independência e continuar onde estava.
- Ela tinha uma lesão na coluna, mas não pedia ajuda para ninguém. Queria continuar livre - disse o filho.
Chuchu estava sempre na rua; de manhã, andava pelo Centro e à tarde costumava ir ao Fórum, onde acompanhava os júris e conhecia boa parte dos funcionários.
Em entrevista ao repórter Christyam de Lima publicada no JORNAL AGORA em dezembro de 2000, Chuchu contou que acompanhava os julgamentos desde 1950. O primeiro foi um homicídio, em Itapecerica, quando ela tinha 37 anos.
- Gostei do evento e passei a acompanhar todos, pois é algo muito importante para a comunidade - disse. Na mesma entrevista, exibiu sua ótima memória citando os nomes de todos os juízes, promotores e defensores que viu atuar.
Cadeira cativa
Os funcionários do fórum amanheceram de luto ontem. Ela seguia para lá quando passou mal na manhã de terça-feira e foi levada ao Pronto-Socorro. Segundo seu filho, este ritual era seguido há mais de 50 anos. Sueli Oliveira de Sousa, que trabalha na administração, falou como ela era querida por todos os funcionários.
O juiz da segunda Vara Criminal Mauro Riuji Yamane esteve no velório de Chuchu e ressaltou o seu carisma. Segundo Mauro, ela cumprimentava todo mundo e sabia o nome de todos os funcionários. Como estava sempre participando dos júris, deu-lhe uma cadeira cativa para garantir seu lugar em todos os julgamentos.
- Isto ocorreu durante um júri muito disputado, de um caso de grande repercussão em que a ré era a empresária Ilza Santos, em 2000, por isso pedi que reservassem a cadeira que ela gostava de ocupar para acompanhar a sessão, como sempre fazia - conta.
Desde então, a cadeira de Chuchu ficou reservada: a primeira da segunda fileira da direita no plenário.
- Demos a ela a função de sortear os membros do corpo de jurados. Assim, em todos os julgamentos, apenas ela fazia o sorteio - revela.
Segundo o juiz Mauro Riuji, ela gostava tanto de ir aos júris que, certa vez, não pode comparecer e levou um atestado médico para explicar a ausência. O promotor Gilberto Osório Resende ressaltou a experiência adquirida por ela ao longo dos anos por acompanhar os julgamentos.
- Ela sabia, na metade da sessão, se a pessoa seria ou não condenada. Muitas vezes, fazia sinal de negativo para mim durante a explanação de um advogado afirmando que seu cliente seria condenado - relembra.
Na noite de terça, após a notícia da morte de Chuchu, e durante o dia de ontem, várias pessoas homenagearam Ana Maria através das mídias sociais, com frases relembrando seu carisma. No Twitter, autoridades expressaram seu pesar, como o deputado Jaime Martins. O deputado federal Domingos Sávio enviou uma coroa de flores e o prefeito Vladimir Azevedo emitiu nota de pesar.
O Fórum ainda não decidiu como fará o próximo sorteio do júri, mas a primeira cadeira da segunda fileira do lado direito do plenário continuará vazia, com o seu nome.
Um comentário:
Execelente texto! Linda homenagem!
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