Depois de grande repercussão na mídia nacional, através da veiculação do assunto no programa global, Fantástico, o tema “falta de pediatras” agora será analisado em Divinópolis. Os motivos para essa falta são vários, mas se destaca o fato de que os hospitais pagam pouco a esses profissionais. Os médicos recém-formados não desejam mais seguir a profissão.
De acordo com o pediatra do Hospital São João de Deus, Clóvis Silva, não faltam profissionais, o que acontece é que os hospitais pagam um valor inadequado. Por esse motivo a cada dia mais pediatras mudam de área, ou desistem de tratar crianças.
Rede pública
Na rede pública seriam necessários pelo menos cinco pediatras atualmente, sendo quatro para o Pronto Socorro e um para a Unidade Básica de Saúde do Tietê, que está sem o profissional. De acordo com a coordenadora de gestão da Semusa, Dorcília Fátima de Oliveira, nem o concurso realizado no ano passado com salários bons atraiu candidatos.
- Para as unidades eram três vagas, e não tivemos nenhum candidato. Para plantonista de 12h/semanais eram duas vagas e também não tivemos candidatos. Para plantonista 24h/semana tivemos duas vagas, dois candidatos e duas nomeações, mas apenas um tomou posse. Por esse motivo os generalistas acabam atendendo as crianças também e por isso a falta ainda não é muito grande.
Para Dorcília, os médicos estão abandonando a área por causa dos baixos salários. Em Divinópolis o salário inicial de um pediatra que trabalha apenas 20h semanais é de R$1.926,58 mais 20% de insalubridade sobre o valor do salário mínimo, além de vantagens como vale transporte e vale alimentação. No Pronto Socorro o plantonista de 12h semanais recebe no início da carreira R$1.155,99, mais 70% de gratificação sobre trabalhos exercícios no local além de outros benefícios acima. Já o plantonista que trabalha 24h semanais recebe R$2.311,98, mais 70% de gratificação.
Matéria publicada no Jornal Agora de 01/05/11
Rede privada
Nos hospitais particulares a situação se repete. O São João de Deus, por exemplo, chegou a fechar seu ambulatório por esse motivo. Segundo o diretor do local, Ronan Pereira de Lima, faltam pelo menos sete profissionais para reativar o ambulatório 24h.
- Isso é o mínimo, mas o ideal seria uma equipe bem maior para podermos fazer plantões de 12h. Quando fechamos o ambulatório tínhamos apenas três, o resto havia desistido – observou Ronan.
Os outros hospitais da cidade também passam pela mesma dificuldade de encontrar esse profissional. No Hospital Santa Mônica, por exemplo, há apenas cinco pediatras que trabalham em plantão presencial. Segundo o administrador do local, Bruno Franco Amaral, foi difícil encontrar estes médicos.
- Apesar de termos cinco, esse número ainda não é o que gostaríamos, pois a demanda é muito grande. Mas conseguimos funcionar normalmente e atender todas as crianças – informou. O serviço é oferecido 24h por dia e por esse motivo eles procuram mais doutores.
No Hospital São Judas Tadeu o serviço também é oferecido 24h por dia e ainda está normal, mas os profissionais estão ficando sobrecarregados. De acordo com o gerente administrativo, Milton Gomes, o local tem sorte já que esses médicos são sócios e por isso o atendimento está garantido.
- Por enquanto temos essa equipe, mas eu acredito que vai piorar porque ninguém mais quer trabalhar nessa área e porque a procura está a cada dia maior – explicou Milton.
O único hospital a não reclamar foi o Santa Lúcia, que de acordo com a diretora, Simone Rausch, possui médico pediatra e tem realizado atendimentos normalmente e sem dificuldades.
Soluções
Para tentar resolver o problema as instituições procuram por soluções a médio e longo prazo. Na saúde pública, por exemplo, a solução é suprir a falta com médicos generalistas, que atendem também as crianças.
- Se não fossem esses médicos suprindo, a falta seria muito maior aqui no Pronto Socorro – contou Dorcília. Ou então torcem para que novos profissionais, recém formados se interessem em preencher as vagas abertas, como aconteceu em uma recente contratação.
Já Ronan acha que a solução é motivar os alunos de medicina a se interessarem pela área como acontece na Universidade Federal de São João Del Rey – UFSJ. O médico Júlio Veloso, que lidera a liga pediátrica no HSJD, faz com que os novos profissionais se interessem pela área, mas como eles só se formam daqui a três anos, e ainda precisam fazer residência, essa é uma solução a longo prazo.
- A verdade é que o ministério da saúde deveria ter intervindo há mais tempo – finalizou.
Matéria publicada no Jornal Agora de 01/05/11
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